segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ATENDIMENTO DOMICILIAR, UMA NECESSIDADE.

Diversas situações exigem o atendimento psicológico domiciliar. O motivo pode ser um tipo de sofrimento psicológico temporário ou uma necessidade permanente. Quando ocorre com clientes que estão em crises pontuais, o atendimento não demora a ser transferido para o consultório. Mas existem outras situações que fazem com que o atendimento residencial seja a única opção, seja por incapacidade de locomoção do cliente, uma necessidade familiar ou qualquer outra razão. Diante desse universo tão íntimo do cliente, o profissional se depara com situações que podem dar um contorno facilitador ao atendimento e outras que podem, ao contrário, tornar o trabalho bastante complexo. É preciso ter a real dimensão da disponibilidade do psicólogo frente à necessidade do cliente, para que o vínculo seja estabelecido e o processo terapêutico seja desenvolvido.
Algumas das questões que devem ser elucidadas a priori, são: Quem é o cliente? Qual a queixa principal? O que o impede a locomoção é uma questão física ou psicológica? O cliente tem consciência da dimensão de seu sofrimento? A solicitação do atendimento é feita pela família com a ciência do cliente? Qual o objetivo principal do atendimento?
Certa ocasião, teve uma solicitação de atendimento domiciliar bem específica. Tratava-se de uma paciente em fase terminal, que apresentava um quadro depressivo. A família, por decisão unânime, resolveu viabilizar o processo terapêutico, com o objetivo de oferecer mais conforto e menos sofrimento para a cliente. Não foi difícil fazer vínculo com a pessoa, que apresentava um quadro depressivo e com sua autoestima deveras comprometida. Logo, iniciamos o processo de “estar com” a cliente, possibilitando um espaço para elaboração de suas questões mais particulares dentro daquela realidade tão dolorosa. Após estar familiarizada com as questões pertinentes da doença física, pude discriminar o que era consequência da doença física, do que representava sua dor psicológica frente àquela realidade. Nosso trabalho evoluiu de acordo com as necessidades que se faziam presentes em cada encontro.
Algumas sessões eram preenchidas com suas queixas em relação a um ou outro atendimento, fosse do médico, da enfermeira ou cuidadoras. Outras vezes, suas reclamações tinham a ver outras relações, fossem de familiares ou sociais. Aos poucos, a cliente encontrava seu lugar ativo em situações que até então lhe reservaram o lugar de vítima. Descobrindo aos poucos a sua capacidade de escolha, ela foi se familiarizando com seus limites reais, redescobrindo sua potencialidade. Sua mudança era visível, a postura antes tão claramente deprimente, ia tomando forma de vida, fosse em sua postura física mais ereta ou no brilho que retomava seus olhos. A qualidade de seus dias foi tomando outra dimensão, propiciando o retorno de novas inspirações, pequenos sonhos, novas realidades.
A conscientização de suas potencialidades foi se tornando ponto de partida para novas realizações. Sua vida era passada à limpo, pequenas coisas se tornavam grandes conquistas, e o valor de cada momento era comemorado. Não é preciso muito para concluir o quão difícil foi para mim o desfecho do trabalho. O vínculo conquistado durante o processo de compartilhar |VIDA tinha sido muito bom, nosso trabalho também tinha que incluir a elaboração da perda (morte). Foi necessário envolver todos os familiares, cuidadores e também a mim. Confesso que não foi nada fácil. Entretanto, não posso deixar de afirmar que também foi um dos trabalhos mais gratificantes de minha vida profissional. Saber que, às vésperas de sua morte, a cliente tinha adquirido uma nova perspectiva de vida, transformando cada momento em um PRESENTE valioso, fez com que a dor por mim sentida se tornasse lição de amor. Amor pela profissão, amor por cada cliente e cada momento que tenho o privilégio de compartilhar com cada um desses clientes que nos confiam seu universo particular.
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Peço licença aos envolvidos, pois ainda que não identifique os nomes, compartilho um tanto de seus mundos tão particulares. Nesse caso, já me desculpo de antemão, fato justificado pelos  ganhos que pessoas em situações semelhantes poderão obter.
Dia desses, anos depois desse atendimento, recebo uma mensagem no facebook. Tratava-se de um membro familiar dessa cliente. Custei a me dar conta de quem era, até que a pessoa iniciou seu relato. Tinha vindo da casa de uma amiga, a quem tinha recomendado meu trabalho, devido ao pai, que se encontrava num quadro depressivo grave e não conseguia sequer sair de casa. Transcrevo suas palavras: Queria dizer que fiquei tão feliz semana passada, quando fui na casa da minha amiga e vi o pai dela bem... Ela me disse que muito dessa melhora foi graças a você. (...) Bem queria te deixar um beijinho e dizer que vc foi muito importante pra mim... Nem é preciso dizer o quanto me emocionei. Acho que ambas precisávamos desse contato, anos depois, para fechar essa gestalt (forma, situação inacabada). Sim, tempos depois, foi a hora de falamos abertamente sobre tudo aquilo. Tive a oportunidade de agradecer pela indicação e pela confiança no meu trabalho. Também aproveitei a ocasião para compartilhar meus sentimentos e agradecer pela oportunidade de crescer como pessoa e profissionalmente. Lembrar com doçura do brilho daquele olhar me fez ter orgulho da escolha dessa profissão, que permite compartilhamos amor, compartilhamos vida. Nem sempre é fácil, mas sempre vale a pena! A propósito, o pai da tal amiga já está caminhando saudavelmente na estrada da vida. O processo terapêutico hoje ocorre no consultório, no caminho que pertence ao cliente, revelando a cada dia potencialidades mais saudáveis.
Psicoterapeutas são profissionais que lançam mão de diversas ferramentas em seu trabalho. No entanto, a ferramenta mais importante para o nosso trabalho está na pessoa do profissional, que se faz presente no processo. “Estar com” o cliente é se arriscar a cada momento, se envolver, mergulhar nas dores e alegrias do cliente. Por isso é preciso ser autêntico nesse processo, que envolve o universo técnico-teórico, sua experiência profissional, seu universo particular e o mundo particular do cliente. Respeitar nossos limites é primordial para um bom atendimento. A possibilidade de vínculo deve ser avaliada na entrevista pelos agentes envolvidos, o terapeuta e o cliente. O envolvimento emocional é necessário, mas não pode ultrapassar o limite profissional que está à serviço do desenvolvimento do cliente. “Estar com” é “sentir junto” para abrir caminhos, não para ser paralisado por sentimentos. “Estar junto” é ter dimensão da dor do outro, para que a oferta de novos caminhos se faça viável. Tanto cliente, quanto terapeuta deve avaliar as possibilidades e os limites nos encontros iniciais. O atendimento psicológico domiciliar tem crescido muito, melhorando a qualidade de vida das pessoas em diversas situações. É preciso lançar mão dessa opção de serviço, que está disponível em diversos locais. Para profissionais no RJ, consulte , clicando  aqui.







3 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho. Gostei muito de ler esse relato de um trabalho profissional que a cada dia se torna mais requisitado em nossa profissão.

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  2. Muito bonito seu texto, e a historia emocionante, sou estudante em vias de 7º período, e acredito que devemos sempre dar o melhor de nós com o outro...Parabéns.

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